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O POVO NEM SABIA O QUADRO CLÍNICO DE SUZANE RICTHOFEN, COMO PODEM TER A CONDENADO?



Antes de ler, assista esse documentário, e depois veja essa entrevista:







Nossa Justiça não está preparada para lidar com doentes mentais, que em função de suas debilidades, cometem seus crimes. O primeiro motivo é que o Estado Laico é uma utopia em um país colonizado por missões religiosas. De forma que valores como a dualidade do “bem” e do “mal”, o sexo como um eterno tabu para a Igreja, a valorização do místico e desconhecido (não faz o menor sentido, mas deve se ter fé)

Suzane era tudo o que a sociedade cristã não esperava de uma filha. Infringiu todos os dez mandamentos: Matou. Não honrou pai e mãe. Pecou contra a castidade (Suzanne começou o relacionamento com Daniel Cravinhos aos treze anos, e o motel era a segunda casa dos dois) Furtou (matou para furtar) Não levantar falso testemunho (Suzane insistiu em sua inocência até o fim) Guardar domingos e festas (era sábado quando Suzane e os Cravinhos fizeram uma pool party, um dia após o enterro de Marísia e Manfred)

Não cobiçar coisas alheias (Suzanne cobiçou precocemente a herança de seus pais) Não seduzir a mulher do próximo (Suzanne usou sedução e sexo para ganhar melhorias, como ser trocada de prisão, ter regalias na prisão e também no seu processo. Seduziu promotores, agentes penitenciários, encarcerados, etc) Amar a Deus sobre todas as coisas e não tomar seu santo nome em vão (Precisa argumentar? Acho que não).

Suzanne é uma psicopata. Isso quer dizer que ela possui hipossufiência do sistema límbico, ou nenhuma atividade. Ela não consegue sentir empatia por outras pessoas, vendo-as apenas como escadas para que ela, Suzane consiga obter seus objetivos. E muitas vezes não medindo esses esforços,  que infelizmente desencadeou a morte de Manfred e Marísia Von Richthofen Entretanto são raríssimos os textos que revelam essa condição mental de Suzanne. A capa do livro diz: “Suzane, assassina e manipuladora”. Ou seja, o óbvio. Em nenhum momento, em programa de tv algum, a resposta dos psiquiatras é incisiva ao afirmar a condição mental da então mulher. Os psiquiatras dão milhares de rodeios e acabam não falando nada. Eu, pelo menos, tenho certeza que isso não é por acaso.

O crime trouxe grande comoção popular. “Afinal, que coisa horrorosa! Uma filha que mata a mãe!” Por isso até entendo em partes o porque da não exposição do diagnóstico. Estaria o brasileiro comum apto a entender o significado de uma doença como a psicopatia? A psicopatia é polêmica até hoje. Todo talk show, toda série de tv, todo documentário está infestado do tema. Uma entrevista antiga da psiquiatra Ana Beatriz Barbosa, no Jô Soares, um dos convidados perguntou: “O psicopata, sendo um erro genético, e que eles não tem cura na cadeia, então eu quero saber que destino dar a eles, já que a doutora é contra pena de morte”

(Opa, eu ouvi um Heil Hitler? Esse discurso é conhecido...) Ana Beatriz respondeu, após dizer que apenas passava informação e que sua fala não tinha nenhum teor pessoal:

“Na Inglaterra, EUA, Austrália, Canada, se aplica uma coisa que é escala de RER, que foi um homem que estudou muito os psicopatas, que faz uma tabela que faz essa separação. A partir desse momento se separam os presos psicopatas dos não psicopatas. E aí você faz ou prisão perpétua, dependendo da gravidade. E na Inglaterra eles ficam isolados, em uma cela onde um lado entra comida e de outro lado pega sol. E o interessante é que qualquer um de nós que não somos psicopatas, quando perdemos o contato com o outro adoecemos, deprimimos e morremos. Esses psicopatas pegam livros pra estudar, se tornam exímios conhecedores do Código Penal, se comportam porque sabem que será pior para a progressão de pena dele se se comportarem mal. Eles são 100% razão. Eles não tem erro de inteligência“

Ou seja, eles prendem em uma jaula e dão uns livros para passar o tempo. O cúmulo do absurdo, não importa que doença a pessoa tenha. O fato de não possuírem emoções não poderia dar ao Estado de prendê-los como cães.  

Lembrando que a expressão usada pela Dra Beatriz, “eles não possuem erro de inteligência” foi bastante infeliz. Os psicopatas não possuem emoções, mas quem define o Q.I. também é a genética. Ou seja, tem psicopata burro. Suzane é um belo exemplo, deixou digitais por toda a casa, nem sequer fez um teatro quando o policial falou o que aconteceu com os pais dela. Apenas falou: “Ok, o que a gente faz, qual o próximo passo”. Ficou de amasso com o namorado Daniel Cravinhos durante todo o tempo dentro da Delegacia, em frente de toda a equipe envolvida na investigação do caso. Seu depoimento foi uma faca no pé.

Enfim, olha como a alta cúpula médica ainda é imatura ao lidar com a psicopatia. Nos EUA, crianças vão para a cadeira elétrica, mesmo sendo examinados e detectado a doença da psicopatia. Falar que Suzane é psicopata melhorará sua imagem diante do homem médio brasileiro? Jamais. Se a alta cúpula da Medicina estão trancando psicopatas em jaulas ad eternum, achando que estão ajudando, quisá o que um país sem lei e sem educação para todos é capaz de fazer. A Suzane não duraria uma hora em qualquer cadeia que ela estivesse.

Agrava-se a isso o caso de sermos um país falsamente laico, onde os valores religiosos regulam a vida de todos o tempo todo. Seria capaz o cidadão médio brasileiro de humanizar um ser humano com essas características? Falta de qualquer sentimento? Sob o domínio de uma religião que dita sermões como: “Amai ao próximo como a ti mesmo?”. Não. Suzane seria vista como animal, ou menos que isso.

Lembre-se que quando a Igreja Católica falou que os escravos negros não tinham a alma, toda galera do Brasil curtiu a ideia de boas. E como gritavam, pediam socorro, corriam, se suicidavam aqueles escravos... Era a Santa Igreja Católica não é mesmo? Sempre influenciando nas nossas decisões sociopolíticas. Sim, Suzane seria pisada “pelos nossos pés puros e cristãos” e seria morta na próxima rebelião, ou depois do Jornal Nacional, cuja matéria “Suzane Psicopata” causaria comoção nas presas do pavilhão e aí vocês já sabem.

O mundo não está preparado para lidar com psicopatas de forma justa, muito menos o Brasil. O desrespeito escancarado à laicidade do Estado e a imprensa desrespeitosa, que publica o título sensacionalista, reproduz mentiras, destorce as informações, invade documentos e lugares a serem investigados pela polícia, são as pedras no caminho da Justiça. Praticamente tudo na Justiça “esbarra” em valores cristãos: Se eu quero ou não ter filhos (ou seja, gozou dentro, parabéns. Não importa se você não tem um centavo no bolso).

Se apanho do meu marido (é porque sou culpada, afinal, “Sede submissa ao seu marido” – Livro de Paulo/Bíblia) Se apanho dos outros ( deve ser porque “dou pinta de veado” (A Bíblia diz que “os afeminados” não adentrarão o Reino dos Céus). Hipocrisia. Com raízes profundas.

Por: Magnolia Calegário 

A Colunista 



Magnolia Calegário é Cantora,compositora,escritora,radialista, jornalista, e advogada.

Autora do Livro: A Família e o Direito Brasileiro Oitocentista - Reflexos na Contemporaneidade?

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REFERÊNCIAS


CAMPBELL, Ulisses. Suzane: Assassina e Manipuladora. Editora Matrix, Ed. 1, 2010.

FRANCHINI, Roger, Richthofen: O assassinato dos pais de Suzane. Editora Planeta. Ed. 1. 2020


Canal: Ler Até Amanhecer In: YouTube. Suzane Louise Von Richthofen e os irmãos Cravinhos. Disponível em : https://www.youtube.com/watch?v=OSTVuYJKf6g&t=21s. Acesso: 01/05/2020.

Canal: Ler Até Amanhecer. In : YouTube. A Vida de Suzane e Cravinhos depois da Condenação. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=5L06kpZ_Q8E Acesso: 01/05/2020.


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