Supremo Tribunal Federal debate nesta sexta-feira a descriminalização do aborto
“A criminalização é um marco de desproteção às mulheres mais
vulneráveis e mais desfavorecidas do país. Estamos falando de meninas
violentadas que engravidam de maneira involuntária, de mulheres sem acesso à
informação ou que fazem mau uso de métodos de planejamento familiar, ou de
mulheres muito jovens que já têm filhos e se encontram em situação que não
podem mais ter filhos”, alertou a pesquisadora.
“A minha pergunta é: como olhar para estas mulheres
desfavorecidas, frágeis e em situação de violência e colocar a polícia atrás
delas por uma decisão de vida? Devo ou não viver em um Estado que prenda as
mulheres – mulheres comuns, uma em cada cinco, ou uma jovem que sofreu
violência em casa? Se ela diz que não pode manter a gestação, ainda pego e
coloco ela dentro de uma prisão por 3 ou 4 anos?”, completou.
A pesquisadora ressaltou ainda que esta decisão não obriga
mulheres contrárias à prática do aborto, mas garante às outras a liberdade de
se submeter a esse procedimento de uma forma segura e livre.
De acordo com a especialista, uma em cada cinco mulheres
brasileiras de 40 anos de idade já fez pelo menos um aborto. Ainda segundo ela,
em 2015, foram mais de 500 mil mulheres brasileiras se submetendo a esse
procedimento. “A questão é constitucional e importante para a democracia. Esta
é parte de uma dívida democrática com as mulheres”, analisou.
Outro lado
Para a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB),
entretanto, o tema deveria ser discutido no Legislativo. Na opinião da
entidade, o assunto contaria com uma participação popular mais expressiva se
fosse discutido no Congresso Nacional.
Para dom Ricardo Hoepers, bispo de Rio Grande (RS), a
discussão restrita ao Supremo é “um transtorno democrático porque impede um
aprofundamento do debate e a participação efetiva da população”.
Mestre e doutor em Bioética e Teologia Moral na Academia
Alfonsiana, em Roma, Hoepers defende que o debate sobre o aborto é uma questão
social e não apenas religiosa. Ele destaca ainda que a CNBB é uma instituição
que faz parte da história democrática do país e, por isso, deve ter espaço para
defender sua posição. Segundo o bispo, seu papel será o de ressaltar a reflexão
em defesa da vida.
“Entendemos, baseado na proposta científica, que a vida
começa na concepção. Este pedido é desproporcional. Temos que defender a vida
da mulher, mas não podemos suprimir a vida da criança. Não se resolve um mal
com outro mal”, defendeu.
Dom Hoerpers reconhece o drama de milhares de mulheres que
tentam o aborto de forma ilegal e que acabam morrendo durante o procedimento.
Segundo ele, esse problema poderia ser sanado com políticas públicas integrais
de proteção à maternidade e cuidado com a vida reprodutiva feminina.
“Seria melhor ter políticas públicas de proteção em vez de
defender a descriminalização. Temos experiências de casas de acolhida que têm
resultados positivos e menos traumáticos para essas mulheres. Achamos estranho
levantar o aborto como conquista quando, na verdade, é um drama”, lamentou.
Fonte: ClickPB
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