O amor é mesmo sacrifício
Do gabinete nas entre-salas 10 mil reais ao mês, carro, comida, roupas e todas as mordomias que um cargo público imputa á quem o conquista, nada se ver, por que os seus olhos são cegos, administra-se de longe, fecha-se as portas para os que os colocam nesse andor. Transforma-se os olhos em marajás, que acéfalos pelo dinheiro balançam a cabeça em um sim constante, que chega a ser algo, no minimo, irracional.
Dos seus só se ouve parabéns, abraçam e elogiam, os compromissos sociais, e de campanha deixa cega(o) quem melhor via até a pouco tempo atrás, uma vez eleito evidenciando os problemas, e todo esforço feito deve e tem que ser digno de elogios e congratulações, nada de criticas, nem as que são as tais 'criticas construtivas', quase sempre aventadas por aqueles que procuram espaço na última raspa do tacho.
Os olhos que agora não enxergam a um palmo além do nariz que se empina, fora transpassados a aqueles que são os marajás de primeira linha, e a eles quase sempre importam fazer o básico, e talvez os serviços essenciais, missão quase nunca alcançada por um ou outro empecilho, ou simplesmente por se fazer do jeito que der, o famoso 'de todo jeito'.
Numa das muitas discussões sem fundamento, e por que não dizer ridícula, é que se ouve repassado os informes de que os serviços essenciais são ou estão em pleno desenvolvimento, mas como diz o ditado popular 'cego é aquele que não ver através de um portão de varas', e não se pode 'tapar o sol com a peneira'.
A verdade é que o foco administrativo se perdeu, e a tentativa de colocar as coisas nos eixos não é missão impossível, porém árdua. Muito se houve, 'não tá fácil pra ninguém', mas se isso salta da boca de quem ganha 10 mil reais, ou dos que são os soldadinhos de barro que em média embolsam de 1500 á 2000 reais, imagine para os que moram nas zonas periféricas, ou para os que mesmo não lá estando não tem emprego, as vezes não por falta de qualificação, mas simplesmente por seus posicionamentos particulares, que nada mas é do que o caminho pela dignidade do não humilhar-se.
Fato é que o amor é sacrifício, sim, é isso mesmo, pois os que se submetem não aos olhos cegos do gabinete, mas aos seus subordinados o fazem por amar a família, não são inocentes - mas afinal quem de nós somos? - são apenas as folhas de uma arvore de miséria e fome que nos castiga, e que nem as instituições religiosas daria palavra que nos seja confortável.
Afinal na condição de ser humano, a fome nos aparta, e nos conduz ao sacrifício para comer animais e demais alimentos, para exemplificar o que diz Augusto dos Anjos, em uma de suas mais lúcidas e verídicas reflexões, no poema de titulo: Á mesa. O qual transcrevo abaixo;
À mesa
Cedo à sofreguidão do estômago. É a hora
De comer. Coisa hedionda! Corro. E agora,
Antegozando a ensangüentada presa,
Rodeado pelas moscas repugnantes,
Para comer meus próprios semelhantes
Eis-me sentado à mesa!
Como porções de carne morta... Ai! Como
Os que, como eu, têm carne, com este assomo
Que a espécie humana em comer carne tem!...
Como! E pois que a Razão me não reprime,
Possa a terra vingar-se do meu crime
Comendo-me também.
Embora pareça simbólico, e nele reside ao que tomamos como ato religioso, ou morada do mistério, reside no ato de comer os que como nós é vivo, o nosso maior sacrifício de amor, alimentar os nossos semelhantes não importando os sacrifícios morais ou de ordem ética, tudo é invenção, seguimos a necessidade de comer, como uma praga o faz na roça, como lagartas que para ganhar asas, depois de muito comer e serem amaldiçoadas, vai ao casulo, para nós a vida, até que um dia a morte - sentença de todos os seres vivos - nos darão asas, para em fim sermos livres de tudo e de todos, e batermos da eternidade as asas que sopram o ar no mundo dos vivos.
Comer é uma sentença aos homens, é também um ato de fé, amor e fraternidade, é a necessidade dos vivos, é a persistência do sacrifício;
- Como
Os que, como eu, têm carne, com este assomo
Que a espécie humana em comer carne tem!
Diante o discurso do essencial, seria o principal o trabalho, a comida, e a humanidade que nos é furtada, quando o poder atende aos seus, e nos rouba a dignidade enquanto seres humanos. Por isso compreender o discurso dos que ganham para faze-los, e para assim não perde o dinheiro que lhes chega fácil e simples é compreensível, mas pouco aceitável.
Menos hipocrisia, e mais humanidade.
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