Vários incêndios florestais devoram meio milhão de hectares na Bolívia
A seca, os fortes ventos e o antigo hábito de limpar a terra
usando o fogo causaram nos últimos dias numerosos incêndios florestais
em uma dezena de municípios da região boliviana de Santa Cruz,
especialmente na localidade de Roboré. Os incêndios queimaram até agora cerca de 470.000 hectares de florestas e áreas de plantação.
Embora ameacem algumas comunidades rurais, mantêm-se longe das áreas
urbanas graças ao trabalho de contenção do Exército. As chamas não
causaram perdas humanas. Os danos materiais, que as autoridades avaliam
serem substanciais, ainda não foram determinados com precisão.
Nesta segunda-feira, o presidente Evo Morales
sobrevoou a área em chamas e, embora tenha dito que viu progressos
significativos nos esforços para controlar os incêndios, ressaltou que o
resultado final dependerá do vento, muito forte nesta época do ano.
Nesta região boliviana, a temporada de ventos coincide todos os anos com
o período de limpeza e preparação dos terrenos para a agricultura
e a pecuária. Apesar da proibição legal, essas atividades continuam a
ser feitas por meio da queima (chamadas de “chaqueos”) com o objetivo de
reduzir o trabalho do agricultor. Uma predileção favorecida pela crença
tradicional de que a fuligem melhora a fertilidade do solo.
O Ministério Público prometeu que encontrará e processará quem provocou os incêndios, mas a Bolívia não tem experiência nesse tipo de investigação: normalmente, a umidade tropical reduz – de forma natural– a extensão e a importância dos incêndios florestais.
Este ano, no entanto, a escassez de chuva permitiu que os incêndios
prosperassem. Além disso, de acordo com grupos ambientalistas, as chamas
também foram favorecidas pela mão aberta do Governo com o desmate – o
corte de árvores, cujos ramos com frequência são queimados–, como parte
de sua política de promover atividades agrícolas e pecuárias,
consideradas prioritárias em relação à conservação da floresta.
Semanas
atrás, Morales suspendeu os limites legais para essa prática em Beni,
região vizinha de Santa Cruz, onde normalmente é costume o desmate para
limpar terras e destiná-las ao gado. Os porta-vozes oficiais, no
entanto, afirmaram que não há relação entre essas medidas e os
incêndios, e que estes se devem exclusivamente à irresponsabilidade de
quem recorreu ao "chaqueo" para limpar suas terras.
A
Bolívia está imersa na campanha eleitoral para as eleições presidenciais
de 20 de outubro, de modo que os incêndios são motivo de debate dos
candidatos, que por um lado tentam culpar Morales pelo que está
acontecendo e, por outro, pedem que o assunto não seja "politizado" e
lembram os fatores estruturais –como a pobreza da população– que estão
por trás dos problemas ambientais do país.
Fonte: El País
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