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VIVER EM TEMPOS DE PANDEMIA, por Waldeci Ferreira Chagas


Tá chato, triste e desolador ficar em casa, mas é necessário. Afinal esse tempo é passageiro, porque se essa for a nova condição de vida, nem todas as pessoas suportarão. Para viver os dias de quarentena, os profissionais da saúde, principalmente os psicólogos, dizem ser necessário construir uma nova rotina. Eles alertam, sobretudo, para que se mantenha a saúde mental. Porque tem gente que pode pirar.

Nem todos conseguirão elaborar uma nova rotina, mas viverão, principalmente porque a vida está resumida a alguns metros quadrados, e em sair de casa uma vez por semana. Na única saída, a recomendação das autoridades médicas é a de que apenas uma pessoa da família vá a rua e faça as atividades necessárias. Tudo deve ser feito num curto espaço de tempo e ao voltar pra casa se deve deixar os calçados fora, tirar a roupa e tomar banho, ou seja, higienizar-se para não contaminar os demais.

Feito isso, deve se manter a tal da nova rotina. Como? Não se sabe. Porque nem todas as atividades domesticas dentro de uma casa são repetidas cotidianamente. Ou seja, nenhum sujeito normal faz as mesmas atividades domesticas todos os dias, como por exemplo: lavar roupa, limpar a casa, passar a roupa limpa e cozinhar. Nos dias atuais é imprescindível se economizar água e energia, o que faz com que essas atividades sejam realizadas uma vez por semana.

Mesmo que todos nas famílias não estejam indo trabalhar, estudar, fazer compras, pagar contas em bancos ou lotéricas, visitar parentes e ir a médicos, dispõem-se de tempo livre suficiente. Todavia, é impossível que todos os dias mulheres e homens consigam lavar, passar, cozinhar e limpar casa. Afora isso, dar atenção a filhos/as ou cuidar de animais de estimação. Se assim estiverem, quando a quarentena acabar haverá um contingente de pessoas com esgotamento físico.

Talvez seja por isso, que todas as vezes que vamos as farmácias comprar algum medicamento, funcionários/as oferecem vitamina C, e suplemento vitamínico. Tem um que possui todas as vitaminas de A a Z. Assim tá escrito no rótulo do frasco do energético. Eles/as ainda reforçam que é muito bom, todo mundo tá tomando e não tem contra indicação.

A quarentena parece gerará super homens, e super mulheres. Ou eles/as já existiam, e precisam apenas ser mantidos/as. Parece que desde outrora estes novos sujeitos já vinham sendo forjados. A novidade em meio a quarentena, talvez seja massificá-los. Depois dessa, a impressão é a de que seremos super alguma coisa, ou super em alguma coisa. Os que sobreviverem verão, é claro.           

Como não há muito o que fazer dentro de casa; as razões vocês já sabem, exceto para aquelas pessoas que sofrem de algum, vamos dizer, “transtorno”. Não sei ao certo se a condição é essa, haja vista não ser psiquiatra.

Mas hoje em dia com o advento da internet e a massificação da informação, todo mundo poder dizer e publicar o que quiser. Eu ouvi um biólogo dizer isso esses dias num Programa de Debate na TV.

Então vou usar do meu direito de dizer algo e publicar: creio algumas pessoas tem algum “transtorno” e repetem compulsivamente a mesma atividade. Por exemplo, uma pessoa que já lavava as mãos repetidamente. Lavar as mãos é um habito de higiene comum ao ser humano, mas quando repetido num curto espaço de tempo, pode não ser normal. Isso é toque; um dos “transtornos” que ataca a humanidade na contemporaneidade. As pessoas que o tem, terão menos probabilidade de serem infectadas por qualquer vírus. Afinal são limpinhas. Assim todas são normais.

Em meio as recomendações de ficar em casa, tem aquelas pessoas que estão trabalhando exaustivamente, são aquelas que acham que não podem parar e vivem a resmungar de que os dias estão longos e chatos, sobretudo, porque não dar pra ficar o dia inteiro assistindo televisão, ouvindo música ou no celular acessando as redes sociais. Elas precisam preencher o tempo, mas não suportam fazer essas atividades. Há os que fazem-na por longas horas sem problema, os que não fazem-nas, e os que fazem, mas não mais que por uma hora diária.

Nesses tempos de quarentena umas pessoas têm feito esforços sobre humano e ficado mais tempo assistindo TV, ou ouvindo música dos mais diversos gêneros. Quanto a TV nem sempre é possível dedicar maior tempo porque assistir a um filme exige que a pessoa pare e direcione os olhos e ouvidos ao filme em exibição.

Dentre os filmes há vários gêneros entre curta e longa metragem de qualidade que merecem a atenção do/a telespectador/a. Tem gente que já assistiu a vários filmes, e ouviu músicas de cantores e cantoras que gostam, e outros/as que conheceram e aprenderam a gostar.

Mesmo assim não há mais com que preencher o tempo, porque tempo não se preenche, se vive. Esse tempo preenchido em assistir a filmes têm possibilitado a formação de público? Há uma tendência do público a assistir as séries estrangeiras, o que levou cineastas brasileiros a também produzirem-nas e as Tevês exibir, embora restritas aos canais fechados. 

Paralelo a pandemia do corona vírus estamos experimentando outra pandemia, a da oferta de produtos culturais. A impressão é a de que não estamos vivendo esse tempo, mas apenas preenchendo-o como se fosse um espaço vazio e inútil. Depois retornaremos mais cultos, mais intelectuais e humanos? Quem sabe?  

Segundo uns especialistas o objetivo é a pessoa não se deprimir, mas não existe ato mais deprimente do que fazer algo apenas para preencher o tempo e não por prazer. Nesse interim um idoso quando perguntado sobre como estava vivendo em meio a pandemia, assim respondeu: “estou parado, calado, enxergando o tempo, escutando, e aprendendo”.  

Tempo não se preenche, se vive fazendo o que alegra e dar prazer. Assistir a filmes, e ouvir músicas são atividades prazerosas, e proporcionam alegria, satisfação, aprendizagem e amplia conhecimento, mas essas atividades precisam ser vividas humanamente, e não no atacado, ou seja, assistidas e ouvidas com olhos e ouvidos de se enxergar, depois compartilhadas.

A falta de compartilhamento do que se aprende assistindo a filmes, e ouvindo músicas pode gerar o tedio e a depressão, uma vez que a razão do conhecimento adquirido e construído não é acumulação, mas a promoção de diálogo e crescimento das pessoas. Não poder compartilhar com outros/as sensações e emoções sentidas e vividas ao assistir a um filme ou ouvir uma música, talvez seja o que de mais desumano estejamos vivendo. Por isso, escrevamos e compartilhamos. Não há ato mais humano e político do que escrever.


Por Waldeci Ferreira Chagas -  Doutor em História pela UFPE - Atualmente professor do Departamento de História da UEPB - CAMPUS III - Guarabira. 
    



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