Comissão do Mercosul virá ao Brasil acompanhar caso Marielle
Nos próximos dias 10 e 11, uma diligência da Comissão de
Direitos Humanos do Parlamento do Mercosul (bloco econômico que reúne
Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela) visitará o Rio de Janeiro
para acompanhar de perto os desdobramentos das investigações da morte da
vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do motorista Anderson Pedro Gomes.
Eles foram assassinados em 14 de março à noite, no centro do
Rio. Com o crime, veio à tona a discussão sobre a vulnerabilidade das pessoas
que defendem os direitos humanos no país.
O coordenador da comissão externa da Câmara dos Deputados que
acompanha o caso, Jean Wyllys (PSOL-RJ), reuniu-se hoje (20), na sede da Ordem
dos Advogados do Brasil do Rio de Janeiro (OAB-RJ), com representantes de
entidades da sociedade civil e da Defensoria Pública da União, para fazer um
balanço das atividades e receber sugestões.
No próximo dia 26, Jean Wyllys viajará com a deputada federal
Benedita da Silva (PT-RJ), como integrantes do Parlasul (órgão legislativo da
representação civil da Argentina, do Brasil, Paraguai, Uruguai e da Venezuela),
para Montevidéu (Uruguai) para relatar às autoridades latino-americanas como
estão as investigações dos assassinatos. Segundo o deputado, é uma maneira de
cobrar providências e deixar o Mercosul em alerta.
Preocupação
Também em maio, haverá uma audiência da Comissão
Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) sobre o tema. A pesquisadora da
Justiça Global Lena Azevedo disse que a preocupação é com a segurança e a
manutenção da vida dos defensores dos direitos humanos no país.
De acordo com a pesquisadora, estão em pauta os impactos da intervenção
federal na segurança pública do estado do Rio de Janeiro e a violência nas
comunidades.
A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), vice-coordenadora da
comissão externa, lembrou a importância de a investigação identificar a
motivação do crime. “Tem um aspecto decisivo que é a motivação porque isso dá o
alcance de risco para os outros defensores de direitos humanos e o entorno
desse crime”, afirmou.
O diretor do Centro de Documentação e Pesquisa da OAB-RJ,
Aderson Bussinger, disse que a entidade acompanha com atenção e cobra
explicações das autoridades públicas sobre as 100 mortes registradas, no Rio,
apenas em fevereiro.
“Isso não é qualquer coisa, temos isso registrado e temos
inclusive nominado. Estamos cobrando para que seja esclarecido como se deram
todas essas mortes”, observou.
O defensor público federal Thales Arcoverde Treiger ressaltou
que o Rio de Janeiro é o único estado que não dispõe de programa de proteção às
testemunhas. Ele relatou que sua equipe começou um trabalho de visita às comunidades
para analisar a situação dos moradores.
As comunidades da Rocinha e Pavuna são as primeiras. Até o
fim do ano, serão feitas 40 visitas às comunidades pela Defensoria Pública da
União.
Balanço
Segundo o relator da comissão externa da Câmara, deputado
Glauber Braga (PSOL-RJ), houve reuniões com o ministro da Segurança Pública,
Raul Jungmann, o chefe da Polícia Civil, Rivaldo Barbosa, e o delegado de
Homicídios do Rio, Fábio Cardoso, para fazer um balanço sobre os impactos da
intervenção federal na segurança pública do estado.
“O resultado da reunião com o doutor Fábio foi: primeiro,
temos à disposição tudo o que é necessário para fazer o acompanhamento da
investigação, não nos falta nada para isso. Palavras dele. Estamos
completamente motivados na definição de mandantes, executores e motivação. E,
terceiro, já houve avanços nas investigações. Isso antes de completar um mês.”
Braga destacou também que o Gabinete de Intervenção informou
que, numa comparação temporal com o que foi a investigação do assassinato da
juíza Patrícia Accioli, no caso Marielle e Anderson a investigação está mais
avançada.
Segundo ele, as apurações sobre as mortes da juíza e do
Amarildo demoraram pouco mais de dois meses cada. “O que leva a crer que há o
indicativo de que no próximo mês nós teremos algum relato sobre quem teria sido
o executor, [para] a partir daí se chegar ao mandante e saber a motivação do
crime”, disse.
A comissão externa da Câmara também se reuniu com o
Ministério dos Direitos Humanos e teve a garantia de que o programa de proteção
à testemunha está funcionando e já integrou um número de pessoas que não pode
ser divulgado.
*Colaborou Akemi Nitahara
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