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Coluna da Magnolia: “Funny Games” e o sadismo involuntário: Você é responsável pela violência que banaliza


Em um mundo em que a exploração do corpo e da mente através do trabalho beiram a escravidão, a frustração e o ódio reprimidos dentro dos seres humanos  beiram o caos. Vivemos no ápice da medicalização da mente. A exploração do trabalho através do Capitalismo esmaga 97% da população e gera riqueza para poucos.  Ideias radicais tomam espaço na mente do trabalhador cansado, com pouco tempo para leitura, e com ódio reprimido. 
Esse ódio pode sair de nossas mentes e ocupar nosso dia a dia de maneira não explícita. Aumentamos a voz, temos crises de choro, pensamos em fugir de tudo e viajar para bem longe. Quem nunca?
“Funny Games” brinca com essa evasão de sentimentos ruins retidos por conta de nossas frustrações. Ultimamente, assassinos, traficantes famosos, canibais tem virado nossos heróis nas séries de TV, como Narcos, Dexter, Hannibal e tantos outros. Nos identificamos com eles, porque eles extravazam o ódio que existe dentro de nós mesmos. Em maiores proporções, é claro. O problema com o crescimento dos anti heróis e seus adoradores é que os últimos, envoltos nesse contexto de exploração humana, deem vazão a uma “conduta sociopática”. Aquele indivíduo cínico que comete crimes ou até mesmo pequenas corrupções, mas o faz disfarçadamente, que sente prazer no sofrimento alheio para seu próprio benefício.
“Funny Games” é sobre como podemos ser sádicos e cruéis, sem perceber. Traz cenas perturbadoras, terríveis, crimes cometidos por dois psicopatas a uma família. Um dos psicopatas quebra a quarta parede várias vezes no filme para dizer: “O que você acha que eu devo fazer com eles?”. “Você quer que eu torture mais ou o filme pode acabar aqui?”. Através dessa inversão de papéis, o filme mostra que sim, nós usamos e abusamos da violência gratuita para desafogar nossas frustrações. É por isso que noticiário só veicula desgraça, porque só assim você gosta de ver.
Essa é uma parte do nosso caráter que talvez nunca vamos admitir totalmente, mas somos sádicos, pois é o sadismo a forma de despejar nossas frustrações, sentimentos retidos involuntários. A questão é que esse gosto pela violência está cada dia mais escrachado. As pessoas não disfarçam mais em comprar camisa de assassinos (mesmo que fictícios) e usar em público, de se aliar a partidos neo nazistas, de ignorar mendigos, de maltratar cachorros de rua. Quanto mais exploradas, mais intimamente sádicas são.  
Com o avanço exponencial do capitalismo, isso tende a piorar muito. Você lerá esse artigo e dirá “Eu não sou sádico, eu trato bem a todos”.  Mas não, você pratica violência sem perceber, e consome violência, sem perceber.  Isso é sadismo involuntário. Esse sadismo faz com que banalizemos cada dia mais a violência. Se isso gera problemas maiores, só estudos apurados para concluir. Mas a mensagem de Funny Games é que nós nascemos animais, e retiradas todas as convenções sociais criadas por nós mesmos, somos capazes de tudo.  E esse comportamento implicitamente sádico das pessoas é uma prova disso.
*Quebra da quarta parede é quando o ator conversa diretamente com o espectador olhando para a tela.

LINK PARA ASSISTIR O FILME



Por: Magnolia Calegário - Para interagir com a colunista, basta enviar uma mensagem para o blog – usando o menu Contato – ou mandar um e-mail para: magnoliacontato2014@gmail.com


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