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O ANO DO SUICÍDIO COLETIVO: O INÍCIO DA RESISTÊNCIA


A inocência é um substantivo abstrato que muito se distancia da ascensão do fascismo no Brasil. Não há inocentes nessa obscura disseminação de ódio e nem no “ato democrático” ao por na cadeira presidencial, Jair Messias Bolsonaro. A bestialidade também é outro substantivo que jamais poderá ser atribuído a todos aqueles que, naturalmente, deslocaram-se de suas casas para depositar o seu voto no atual candidato eleito. Para mim, aluno de graduação do curso de licenciatura em Letras-Português da UEPB (Universidade Estadual da Paraíba) Campus III, Guarabira, assim como para uma grande parcela das pessoas que tenho grande estima, chega a ser (sobre) natural o ato individual, mesmo diante de fatos cabais, eleger o Bolsonaro. Em face disso, não critico aqui o direito de votar no candidato de sua preferência, pois seria, a meu ver, uma notável contradição para quem defende a existência de um estado democrático de direito. Critico a inibição das consequências um tanto óbvias que se entrepõe com extremada nitidez, entre quem Bolsonaro é, e a ideia que ele projetou dele para a sociedade brasileira.

Essa data de hoje, 28 de outubro de 2018, será a data marcada pela ascendência da Barbárie ao cargo máximo em nosso país. Tudo o que foi construído desde a redemocratização e a sua institucionalização na década de 1988, dissolver-se-á, suprimir-se-á. Com os dois anos de Michel Temer desde o impechmeant da ex-presidente Dilma Rousseff no ano de 2016, o atual presidente da república, Michel Temer, conseguiu aprovar a PEC 241 ou 55 / PEC dos gastos que congela investimentos por parte do governo federal nas mais diversas áreas do setor público, a saber, na educação, na saúde, na infraestrutura e etc.; o mesmo governo aprovou a lei de terceirização do trabalho e, não menos importante, a reforma trabalhista. Tentou da forma que podia aprovar a reforma da previdência, fato que não se sustentou dado o contexto social, a opinião popular, bem como algumas nuance a respeito da idade máxima para se aposentar. Entretanto, não são desses detalhes que busco dissertar neste breve texto, pois para essas incursões ousadas, seria mister uma pesquisa a altura e mais refinada. A finalidade deste texto é pura e simplesmente expor a minha posição diante dessa barbárie, diante do que acontecerá – nos ano de ano 2019 em diante, ao Brasil. Dentro das propostas de governo do futuro presidente Jair Messias Bolsonaro, estar o combate a ideologia de gênero, quer seja dentro das universidades, quer seja dentro das escolas – fundamental ou médio. Com a potencial censura que ocorrerá, inevitavelmente, dentro do âmbito das academias, a liberdade de expressão será foco primado, a propósito, no que tange a negação dos LGBTS e a sua aceitação na sociedade. Se no governo PT, a ideia é combater o preconceito, no governo de Bolsonaro será de alimentar o preconceito, não apenas a despeito da ideologia de gênero, mas dos negros, dos índios, dos quilombolas. Como o Nordeste, mediante ao cenário brasileiro foi o espaço geográfico nacional onde Bolsonaro não ganhou, nem no primeiro turno e nem no segundo turno, será pelo Nordeste onde nós, nordestinos e nordestinas seremos mais rechaçados, humilhados; onde o “Messias” fará questão de nos prejudicar. Programas como o CAPES e o CNPQ que, ainda neste ano foi alvo de corte de verba pelo presidente Michel Temer, muito embora ele tenha decidido, talvez por pressão das instituições de ensino e o grande impacto, de caráter negativo, que seria para o fomento a pesquisa e ao ensino, revogou a liberação da verba. No entanto, não pensem que esses programas não serão alvo de Jair Messias Bolsonaro no ano de 2019; não sejam inocentes. Pois ele irá, consequentemente, atacar. Ele irá, é de se acrescentar, implantar o ensino a distância para reduzir gastos com universidades e até cobrar mensalidade para Universidades Federais, detalhe salientado por ele e o seu filho, Eduardo Bolsonaro.

A minha critica se direciona ao ato de escolher o candidato, sem pôr na balança todas essas questões avassaladoras e obscuras para o desenvolvimento qualitativo e benéfico de nosso país. Será que haverá ENEM nos próximos anos? Será que haverá PIBID (Programa Institucional de Iniciação a Docência) ao qual eu participo pela UEPB? Será que haverá o PIBIC (Programa Institucional de Iniciação Científica)? Será que haverá a Residência Pedagógica? Será que haverá bolsas de mestrado e de doutorado para quem está iniciando o curso? Onde ficam os meus direitos? Votei no candidato Fernando Haddad, homem honrado, ex-ministro da educação do governo Lula, professor, pai de família e que tem um currículo limpo e estimado; não é ficha suja e iria governar para mim, para os meus direitos. Com ele, todos esses programas citados seriam abraçados. Se o meu amado Nordeste votou expressivamente em Haddad, é porque nós conhecemos o quanto sofremos, o quanto somos humilhados em estados como na grande São Paulo e no Rio de Janeiro. Onde discursos como “Votou por causa do Bolsa Família”, “Passa fome”, “Votou com a barriga” ainda perduram. Todo mundo deveria ter interesses lógicos guiados por uma razão límpida e sem desvios bruscos, como esse monstro que foi eleito nesta data de sangue. É lógico eu votar em candidato X porque sabemos que o candidato X vai governar para a nossa classe. Todavia, os 57.774.302 milhões de eleitores que escolheram Jair Messias Bolsonaro para presidente da república, não foram pessoas com um coração pueril, eles não estarão isentos de nada, nós, os 46.988.083 milhões seremos os protagonistas dessa história. Pois é sabida a observação, que nós desenvolveremos, no percurso desses quatro anos, a missão de rememorar cada momento, cada foto, cada discurso, cada frase, cada publicação nas redes sociais que foram Pro-Bolsonaro; nós iremos dizer “Eu avisei”. A democracia sempre tende para dois polos, ora ela domina, ora ela é atenuante na medida em que delineia o sentimento de pseudoliberdade para com a população.

O nosso dever é resistir, é sobreviver ao fascismo, é lutar, é sangrar. O estimado historiador brasileiro, Leandro Karnal disse: “È impossível um governo justo, numa sociedade corrupta”. No que toca a esta premissa, depreende-se que o Brasil tem o governo que merece. Nós, que fazemos parte da esquerda do Brasil e que, sobretudo, defendemos em afinco a ideologia de que deve haver a igualdade, para que o rico não se sobreponha financeiramente ao pobre, temos que nos unir em braço forte e numa mesma sintonia para que o fascismo não suprima, não reduza a restos ínfimos tudo que foi construído para servir aos nossos propósitos. Jair Messias Bolsonaro é um político que governará para as grandes elites, isso não será surpresa para nenhum historiador, cientista politico ou crítico individual, ele atacará todos os programas sociais criados pelo governo Lula. Pois o Bolsonaro já demonstrou que o seu ódio não é apenas com o partido dos trabalhadores (PT), mas com os eleitores de Lula, de Haddad. Portanto, todos os 46.988.083 milhões de eleitores que se preparem para a guerra, para a resistência. Vivam tranquilos, com a consciência invicta. Pois vocês não fizeram parte disso. E para os pobres de direita que se negaram voluntariamente a estudar mais um pouco de história, no intento de não se alienar aos discursos tendenciosos que inflamaram e demonizaram a imagem do PT no Brasil, saibam que vocês também serão alvos de cada projeto sancionado por Jair Messias Bolsonaro; saibam que vocês são pobres, não apenas de caráter, de moral, ou de espírito, mais de dinheiro mesmo. Bolsonaro não governará para vocês, isso nunca ocorrerá. Bolsonaro não acabará com a corrupção! Bolsonaro não elevará o Brasil a 5º categoria de maior potência do planeta! Bolsonaro não aprovará projetos que irão lhes beneficiar! Bolsonaro não entende, ele não entende o que é ser pobre! Ele não entende o que é a ausência, o que é a dor do sofrimento. Ele não é negro, não é pobre, não é homossexual, não é índio, não é quilombola, não é nordestino, não é sertanejo, ele não entende isso. Não há moral, pois ela foi quebrada e anunciada por Friedrich Nietzshe, filósofo alemão do século XIX, em sua obra: Assim Falava Zaratustra. Não existe Deus e nem moral. Deus está morto. O homem pós-moderno assassinou Deus e o que entendemos por “moralmente e/ou politicamente correto”. Fiódor Dostoiévski, escritor e filósofo russo, disse, em sua obra “Os Irmãos Karamazov”: “Se Deus não existisse, tudo seria permitido”. Em função do que era defendido na obra de Nietzshe em profunda consternação com a obra de Doitoiévski, revela que a concepção medíocre e multifacetada que temos na fase contemporânea, não passa de ilusões, de miragens desérticas. Mircea Eliade em O Sagrado e o Profano alerta para uma nova ótica sobre a interpretação do homem pós-moderno, ou seja, um homem dessacralizado, completamente desprovido de virtude e que se apegou, ordinariamente, as paixões do mundo e aos vícios. Edgar Allan Poe, escritor, poeta e crítico literário norte-americano do século XIX, em sua obra A Queda da Casa Usher, expõe, numa cadeia de acontecimentos metafóricos, a ruína profunda e angustiante aludida, sobretudo, ao ser humano. Aquela casa velha, bucólica, perto de paisagens naturais, demonstrava a ruptura com os nossos valores que foram enterrados junto com a nossa essência. Por dentro a casa pode até parecer bela, bem arrumada, mas por fora ela está em ruína; assim como nós.

Poe entendeu isso, entendeu o declive do homem ao lúgubre, entendeu que a redução de tudo o quanto um dia fora belo era inevitável. Essa eleição, como é de costume, vale ressaltar que simplesmente revelou o preconceito, a intolerância, a natureza cruel que estava adormecida e que, ainda mais, estava esperando um bode expiatório para legitimar o ódio e a liberdade para senti-la e expressá-la. Como se não bastasse sentir ódio pelo outro, agora será permitido agressões contra o outro, tanto verbalmente, quanto fisicamente como vem acontecendo. Mas o Brasil escolheu, ou melhor, para não generalizar, 57.774.302 milhões de eleitores de Bolsonaro escolheram. Não se assustem se os índices de suicídios, homicídios, agressões – principalmente aos LGBTS e negros aumentarem drasticamente. E o que dizer das cotas? Elas serão extintas, porque “Negros não são melhores que brancos”. A título de esclarecimento, sabem quais são os índices de suicídios no Brasil? Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) só no Brasil, cerca de 11 mil pessoas se suicidam por ano, onde as causas são apontadas no percentual de 65,6% dos óbitos, por causas externas (Violências e acidentes). Conforme o Ministério da Saúde e com base no (SIM) Sistema de Informação sobre Mortalidade, revela que os indígenas são os que mais cometem suicídio, cerca de 15,2%. A taxa de suicídio cresceu mais entre os anos de 2011 e 2015, tendo por base o foco em pessoas de 15 a 29 anos de idade. Em 2011, houve o suicídio de 10.490 pessoas e, já no ano de 2015, esse número aumentou para 11.736 mortes, incluindo negros, brancos e indígenas. Decorrente disso, qual o propósito nessa exposição de dados sobre o suicídio? Bem, tendo em vista que o fascismo bolsonariano está disfarçado de agente messiânico com o discurso de que vai mudar o Brasil para melhor, é importante saber, através de dados, que não são os brancos que estão se suicidando, mas sim os indígenas, os negros, os homossexuais; e é justamente contra todos estes que Bolsonaro milita, que ele chama, como numa de suas entrevistas, de “Vitimismo”, tanto de nordestino, quanto de homossexual e negro. Se os indígenas estão se suicidando, é porque a qualidade de vida, dado ao ambiente geográfico já vem se tornando mais difícil. Com base nisso, entendendo a instabilidade socioeconômica e sociopolítica que o país está enfrentando, direciono a seguinte pergunta: que impactos terá sobre essas minorias, um governo fascista, autoritário, insensível para com os que vivem em estado de vulnerabilidade social? Bolsonaro se revelará. O ano de 2019 será revelador para todos nós. Por fim, encerrando esse primeiro artigo de opinião no mesmo dia em que vivenciei a barbárie ascendendo ao poder, afirmo-lhes que a destruição que Jair Messias Bolsonaro irá causar no país, será um nível avassalador, impensável. Se Michel Temer, nesses dois anos de mandato, conseguiu desestabilizar a economia, aumentando absurdamente a desigualdade social e o desemprego, e o que Bolsonaro não fará em quatro anos? Tirem suas próprias conclusões. O teatro macabro está apenas se iniciando.



Serra da Raiz – PB, 29 de outubro de 2018
Cleiton da Silva Duarte Lira

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