Com foco em segurança pública, Congresso pouco avançou em temas econômicos
Brasília – O Congresso iniciou seus trabalhos em fevereiro
com promessa de se concentrar em uma agenda de prioridades, mas após dois meses
de funcionamento pouco avançou nas votações de propostas com impacto na
economia, deixando o foco de seus trabalhos para a segurança pública.
Logo em fevereiro, a decisão pela intervenção federal na
segurança pública do Rio de Janeiro derrubou por terra qualquer expectativa de
votação da reforma da Previdência, até então tida como a prioridade do governo
e de sua base.
O Planalto tentou, então, mudar o foco e divulgou uma pauta
legislativa com 15 propostas essenciais –muitas delas já em tramitação no
Congresso. A forma como a lista foi colocada incomodou os presidentes da
Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), que
demonstraram claro descontentamento.
Mas ainda que tenha manifestado sua insatisfação com a
condução da elaboração e divulgação da lista, o próprio Maia defende e tem
trabalhado pela aprovação de uma série de medidas que a integram. Nenhuma
delas, no entanto, chegou a avançar de forma significativa. Esse é o caso de
projeto que retira as desonerações da folha de pagamento concedida a diversos
setores.
Após algumas semanas de negociação, Maia conseguiu que o
plenário da Câmara aprovasse um requerimento que conferiu regime de urgência à
proposta. Mas ela segue alvo de impasse. A equipe econômica a defende como um
instrumento que pode melhorar sua arrecadação, embora já não conte com essa
receita para este ano.
Já companhias e parlamentares ligados ao setor empresarial
argumentam que a retomada da cobrança dos tributos pode impactar na sua
atividade e na geração de emprego. Maia, aliás, chegou a defender publicamente
que a reoneração não incida sobre os setores que geram mais empregos.
O cabo-de-guerra segue, e ainda não há um horizonte claro
para a votação da proposta, embora o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha,
tenha afirmado ter a expectativa de ver o projeto aprovado na Câmara e no
Senado ainda na primeira quinzena de abril.
O vice-líder do governo aposta no fato de o relator do
projeto, deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), ser da oposição como um estímulo
para que críticos ao governo apoiem o projeto. Nos cálculos de Perondi, o
projeto deve ser votado na próxima semana ou na seguinte, mas ele mesmo admite
que a proposta original do governo “inchou” e que ainda é necessário construir
um consenso.
Eletrobras
Outra medida que integra a lista de 15 prioridades e tem
seguido seu caminho na Câmara em marcha lenta é o projeto da privatização da
Eletrobras. A proposta encontrou alguns percalços até mesmo para ter sua
comissão especial instalada e segue enfrentando dificuldades para avançar.
O próprio relator do projeto, deputado José Carlos Aleluia
(DEM-BA), chegou a dizer que faltava “foco” do governo para fazer o projeto
andar, ao passo que analistas já alertavam para uma desorganização da base
aliada.
A esse cenário se soma a preocupação, principalmente por
parte de deputados do Nordeste, em aprovar um projeto que pode ter impactos
diretos na região, justamente em período eleitoral. Com isso, a proposta segue
com expectativas pouco otimistas de cumprir a expectativa de ser aprovada pela
comissão no dia 23 de abril.
A situação é tal que as estimativas de receita do governo já
não contam com recursos da privatização da Eletrobras para este ano.
O imbróglio levou o relator da proposta a considerar a
hipótese de pedir que ela seja levada diretamente ao plenário, caso empaque na
comissão.
“Eu tenho conversado e vou continuar persistindo em votar na
comissão. Se eventualmente continuar a dificuldade na comissão, a minha
proposta é que seja levada direto ao plenário”, disse à Reuters.
Mais um tema de considerável importância cuja tramitação
também tem patinado é a medidas provisória com ajustes à reforma trabalhista. O
tema enfrenta resistências na Câmara dos Deputados e empacou na comissão mista
responsável por sua análise.
Um impasse sobre a relatoria da proposta foi tamanho, que
ainda não foi oficializado um relator para a medida e o então presidente do
colegiado, senador Gladson Cameli (PP-AC) renunciou ao posto. O presidente da
Câmara avisou que o tempo é “muito curto” para a votação da MP, que perde a
validade no dia 23 de abril.
Segundo Perondi, a MP deve ser deixada de lado e a lei atual
ficará sem os ajustes pretendidos pela medida.
“Essa MP vai cair. Não acontecerá nada”, afirmou à Reuters.
Segurança pública
Se de um lado a pauta econômica avançou pouco, parlamentares
se esforçaram para aprovar algumas medidas ligadas à segurança pública, tema
caro à população em geral e com forte potencial eleitoral.
A Câmara, por exemplo, aprovou projeto que cria a Política
Nacional de Dados e Informações relacionadas à Violência contra as Mulheres
(Pnainfo), outro que aumenta as penas para furto ou roubo com uso de explosivos
e também para os casos em que o roubo gerar lesão corporal grave, e ainda um
que determina a cassação da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) do condutor
de veículo usado em crime de receptação, contrabando ou descaminho de
mercadorias.
Também conferiu regime de urgência a outras propostas, como a
que exige o bloqueio de sinal em penitenciárias por parte das operadoras, além
da que cria o Sistema Único de Segurança Pública (Susp) e a Política Nacional
de Segurança Pública e Defesa Social.
O Senado também se debruçou sobre o assunto, e aprovou
projetos como o que impede o contingenciamento de recursos destinados ao Fundo
Penitenciário Nacional (Funpen) e outro segundo o qual a Polícia Federal poderá
ser responsabilizada pela investigação de crimes praticados por organizações
paramilitares e milícias armadas, além da urgência a uma proposta que proíbe a
limitação de empenho de movimentação financeira dos recursos destinados à
segurança pública no orçamento da União.
Por: Maria Carolina Marcello
Fonte: Reuters

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