Somos todos pequenos
Fechar a Esplanada dos Ministérios, ainda que temporariamente, não é fechar apenas um cartão-postal. Lugar de praças e procissões, de fé, festejos e protestos, a Esplanada é um símbolo importantíssimo da democracia, cravado na capital do país. Monumento urbanístico, concentra os poderes constituídos e acolhe as divergências políticas. O decreto do governador Ibaneis Rocha, em bom momento, foi um recado claro. Mais do que respeito, a Esplanada, os monumentos, os Poderes, os servidores públicos e as demais pessoas que ali trabalham merecem segurança. Lugar para manifestantes hostis, fantasiados de fascistas, que soltam rojões em frente ao STF e ameaçam padre, é outro.
Conheci dom Marcony há muito tempo. Foi o primeiro brasiliense a ser ordenado padre. Escrevi essa matéria para o Correio Braziliense, contando sua história, assim como estive em inúmeras coberturas na Catedral de Brasília, seja nos eventos históricos, seja na defesa desse belíssimo monumento. Depois de ser ameaçado por extremistas, o que motivou o fechamento da Esplanada, o padre falou ao Correio sobre o episódio, mas também lançou luz sobre o momento em que vivemos.
A necessidade de pacificação é urgente, sustenta. O Brasil, que conta um milhão de infectados nesta pandemia, não deveria, apenas, numerar mortos ou doentes em escala. Toda vida importa, diz. Perder uma só pessoa já seria motivo para lamentar enormemente.
Dom Marcony evita julgar quem os ameaçou, lideranças e grupos radicais, mas acredita que o brasileiro tem extrema dificuldade de aceitar e cumprir regras, o que agrava o momento de pandemia. Vale reproduzir um trecho: "Vamos ter que nos acostumar e aprender a viver com o que ainda nos domina (o vírus). Ainda não temos a vacina ou uma solução. Esse é o grande problema das pessoas, elas querem prazos imediatos para tudo. Seja para satisfação pessoal, para a questão econômica, para saúde e até para a liberdade, bem ou mal interpretada. Vamos levar um tempo aprendendo o que a pandemia nos trouxe".
Talvez o maior aprendizado, eu acredito, seja aceitar nossa vulnerabilidade. Comportar-se como rei ou rainha, acima de todos e de tudo, é como desconhecer o quanto somos pequenos diante do universo e dos mistérios da vida. Ter humildade para saber o nosso tamanho diante da natureza, de Deus e desse planeta é estar mais preparado para viver este momento. Aceitemos isso, que vai doer menos. Quanto aos radicais, extremistas, pedantes, fascistas, preconceituosos, mentirosos e criminosos que saem ameaçando pessoas e cidades... A Justiça cuida deles. Olhai e vigiai.
Por: Ana Dubeux, do Correio Braziliense
Nenhum comentário