Covid-19: os negros são infectados e morrem menos pelo Coronavírus de que brancos no Brasil?
Nos primeiros boletins
epidemiológicos sobre os resultados do Covid-19 no Brasil os números mostravam
que a contaminação e morte pelo vírus era maior entre brancos de que entre
negros no Brasil. No dia 10/04/2020 até
às14h dados do ministério da saúde mostram indicadores mais
elevados tanto de
morte quanto de contaminação entre brancos. Nesse momento descrito o número de
pessoas brancas hospitalizadas pelo Sars-cov-2 eram de 73,9%, e o de pessoas negras chegava a 23,1%. Esses mesmos dados
demonstram que no quesito óbito 64,5% eram de pessoas brancas, e a porcentagem
de pessoas negras eram 32,8%. Nesta perspectiva, seria as pessoas negras mais
fortes contra o Coronavírus? As pessoas negras possuem mais resistência contra
o vírus ou será que as respostas são outras?
Historicamente
no Brasil após a abolição da escravatura em 1888 a população negra foi
marginalizada e retiradas das políticas públicas, pois, essa população teve
seus direitos violados e foram forçadas a viverem aos arrabaldes das cidades, e
muitos desses locais eram quilombos que com o passar do tempo se transformaram
em regiões periféricas das cidades. Essa população negra foi realmente entregue
ao desvario e revelias de doenças e epidemias por falta de políticas públicas
que atendessem às suas necessidades básicas. Seria todo esse desprezo histórico
por parte do estado a essa população negra falta de compromisso com a causa
negra, e não só negra como também humana ou o estado na história dos nossos
governantes almejavam e planejaram tudo
isso para que esse povo negro fosse dizimado?
Bem, interligando a história do desprezo pelo estado a essa população
negra com o momento que vivemos podemos perceber visualmente e empiricamente
que grande parte dos negros no Brasil ainda moram nas periferias das cidades, e
muitos deles por diversos motivos não alcançaram uma ascensão social. Sabendo
que o Coronavírus praticamente chegou no país através da classe média-alta proporcionalmente
branca em voos vindos de outros países ao Brasil, logo percebemos que esses
primeiros dados relatam justamente a fonte primária a quem o vírus atacou
primeiro, uma população branca de classe média-alta. Estaria esses dados do
Ministério da saúde dando-nos algo a mais de que somente números referentes ao
Coronavírus? Todavia, posso inferir que esses números também mostram a
realidade social ainda do nosso país, onde pessoas da classe média-alta são em
sua maioria proporcional branca; isso imaginando que até o momento desse dado
do ministério, o vírus não tinha chegado com força total nas periferias, por
isso, que as porcentagens mostrou esses números.
No
entanto, o vírus vem se espalhando exponencialmente e está chegando nas favelas; nas ruas mais estreitas; nos
arrabaldes das cidades, ele vem deixando as ruas mais centrais, os prédios e
condomínios ( fortaleza dos mais ricos deste país), onde os mais fartos de
remuneração se isolam rodeados de suas possíveis regalias, e agora está
chegando nas casas periféricas onde historicamente localiza-se essa população
mais vulnerável que muitas vezes não tem o que comer. O Boletim atualizado em 26 de Abril de 2020, 16 dias depois do
boletim supracitado mostra que 45,2% do óbitos são de pessoas negras, enquanto
52,3% são de pessoas brancas. Ficando de fora da contagem as sub-notificações
que podem mostrar números totalmente diferentes com relação a população negra,
visto que muitas pessoas dessa população nesse momento dessa pandemia podem
muitas das vezes ou não conseguirem fazer o teste ou morrem constando em suas
certidões de óbitos causa não determinada. Com relação às porcentagens do
ministério da saúde podemos perceber e inferir que naquele momento do dia 10 de
Abril ou foi as sub-notificações dos casos de covid-19 em relação a população
negra ou o vírus não tinha ainda chegado com veemência nas localidades
periféricas, locais onde habita boa parte dessa população ainda na realidade
brasileira. No entanto, os números crescentes de mortes pelo coronavírus entre
a população negra demonstra-nos que essa
população não é uma espécie diferente ou resistente a esse vírus, são humanos,
e assim vulneráveis a essa pandemia.
Sim, vulnerável, pois, boa parte dessa população é desprovida muitas das
vezes de recursos que são essenciais à vida; água tratada e material adequado
para se higienizar corretamente contra o vírus ; saneamento básico, pois, no
Brasil as pessoas não são resistentes a ponto de ficar dentro de esgoto;
comida, sim comida, pois, sei que muitos
não somente da população negra como de
outros segmentos da sociedade estão sofrendo neste momento.
Destarte,
duas perguntas serão feitas aqui, a primeira é: como serão os novos números de
óbitos entre a população negra, visto que agora o vírus está espalhando-se por
todos os lugares do país? A segunda é: o que esse vírus vai ensinar aos nossos
governantes com relação à população negra? Sobre a primeira questão seria mesmo
exatamente uma função de um profeta, contudo, baseado nos números e conjuntura
percebemos que o morticínio pelo vírus
referente a essa população tende a crescer de modo maximizado, infelizmente. No
que refere-se ao aprendizado que a passagem desse vírus poderá deixar aos
governantes relativo a população negra é que as políticas de ascensão social e
econômica tem que ser pauta primordial de um governo compromissado com a
população historicamente marcada pelo desprezo estatal e pelo racismo
estrutural e social.
Graduando em História pela UEPB - CH; participante do NEABI - CH; aprofundamento em estudos sobre representatividade negra na Política.
Fontes :
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