Militar vira réu por estuprar militante na Casa da Morte durante ditadura
O sargento reformado do Exército Antônio Waneir Pinheiro de Lima,
conhecido como “Camarão”, se tornou réu por crimes cometidos durante a ditadura militar.
Ele é acusado por sequestro qualificado e estupro (duas vezes) de Inês
Etienne Romeu no imóvel que ficou conhecido como “Casa da Morte”, em
Petrópolis (RJ). Os crimes teriam ocorridos em 1971, segundo a acusação
do Ministério Público Federal (MPF).
Em decisão por maioria (dois votos a um), na quarta-feira
14, a Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2)
aceitou recurso do Ministério Público Federal contra a decisão da 1ª
Vara Federal Criminal de Petrópolis, que havia rejeitado a denúncia sob
as alegações de que a conduta do militar foi alcançada pela Lei da
Anistia (Lei 6.683/1979) e que teria sido extinta a possibilidade de
puni-lo, pois os crimes estariam prescritos desde 1983.
A desembargadora federal Simone Schreiber e o desembargador em
exercício Gustavo Arruda Macedo divergiram do relator do processo,
desembargador Paulo Espírito Santo, que tinha votado contra o
recurso. “O Centro de Informações do Exército (CIE) usou a casa na rua
Arthur Barbosa, nº 50 (antigo 668-A), Caxambu, como aparelho clandestino
de tortura no período do regime militar e foi localizado por Inês
Etienne Romeu, única prisioneira política a sair viva do aparelho,
conforme declarações ao Conselho Federal da OAB (Ordem dos Advogados do
Brasil)”, afirma a Procuradoria no recurso.
Comissão da Verdade
Segundo o MPF, “o imóvel foi emprestado ao Exército pelo então
proprietário Mário Lodders e, segundo o tenente-coronel reformado Paulo
Malhães, em depoimento prestado à Comissão da Verdade do Estado do Rio
de Janeiro, o local foi criado para pressionar presos a mudarem de lado,
tornando-se informantes infiltrados”.
“Ao menos 18 pessoas foram assassinadas ali e seus corpos permanecem
desaparecidos. Além do depoimento de Inês Etienne Romeu e outros
envolvidos, os atos ilícitos de cárcere privado e tortura praticados
contra Inês por servidores militares entre 5 de maio e 11 de agosto de
1971 na ‘Casa da Morte’, foram reconhecidos por decisão da 17ª Vara
Federal Cível de São Paulo”, afirma o MPF.
Fonte: Veja
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