Votação de MP que altera reforma trabalhista ainda não começou a tramitar
A poucos dias de perder a validade – no dia 22 de fevereiro
–, a medida provisória que altera pontos da reforma trabalhista (MP 808/2017)
nem sequer teve os membros da comissão especial mista designados, para a
primeira etapa de tramitação da matéria.
O presidente deverá ser o senador Bendito de Lira (PP-AL). Já
o relator será um deputado. Inicialmente, a ideia era que Rogério Marinho
(PSDB-RN), que foi o relator da reforma na Câmara, também fosse o da MP, mas as
conversas não avançaram.
“Infelizmente, qualquer pergunta em relação a esse tema tem
que ser dirigida ao presidente do Congresso Nacional [Eunício Oliveira]. As
medidas provisórias são congressuais [Câmara e Senado, com comissões mistas] e
desde que a medida veio para o Congresso, dia 14 de novembro, até agora o
presidente ainda não acenou de que forma essa comissão iria funcionar. Vários
partidos já designaram membros, mesmo assim o presidente ainda não definiu o
funcionamento da comissão. Eu fui indicado pelo líder do governo como relator,
mas a rotina, a liturgia é de primeiro eleger o presidente, que será alguém do
Senado”, explicou Marinho à Agência Brasil.
O deputado lembrou que o presidente geralmente acata a
designação feita pela liderança do governo que é fruto de um consenso e de um
rodízio entre os partidos. “Não tenho mais expectativa sobre isso não, já era
pra estar funcionando, não vou agora fazer prognóstico, vamos aguardar o que o
presidente do Congresso vai decidir”, disse o deputado.
Acordo
A edição da MP foi um compromisso do presidente Michel Temer
com os senadores, que estavam insatisfeitos com alguns pontos da reforma
aprovada na Câmara. O acordo garantiu que o texto fosse aprovado pelo Senado
sem alterações, para que a matéria não tivesse de ser analisada mais uma vez
pelos deputados, pois o governo tinha pressa.
O atraso na instalação da comissão acontece porque o
presidente do Senado e do Congresso, Eunício Oliveira (MDB-CE), busca garantir
que as modificações acertadas com Temer sejam mantidas na MP. Já Marinho
indicou anteriormente que não tem esse compromisso, o que causa desconforto.
Até o fechamento desta reportagem o presidente do Senado não
foi encontrado para comentar o assunto.
A MP alterou 17 artigos da reforma trabalhista, considerados
mais polêmicos. Entre os parlamentares, a falta de consenso se reflete não só
no impasse para destravar a tramitação da matéria, mas também nas 967 emendas
ao texto apresentadas à Comissão – o número é recorde.
Saiba quais são os principais pontos da MP:
Trabalho intermitente (executado em períodos alternados de
horas, dias ou meses) – A modalidade de contrato garante parcelamento das
férias em três vezes, auxílio-doença, salário-maternidade e verbas rescisórias
(com algumas restrições), mas proíbe o acesso ao seguro-desemprego ao fim do
contrato. A convocação do trabalhador passa de um dia útil para 24 horas.
Trabalhador e empregado poderão pactuar o local de prestação do serviço, os
turnos de trabalho, as formas de convocação e resposta e o formato de reparação
recíproca, em caso de cancelamento do serviço previamente acertado entre as
partes. O período de inatividade não será considerado como tempo à disposição
do empregador e, portanto, não será remunerado. O trabalhador poderá, durante a
inatividade, prestar serviço para outro empregador. Em caso de demissão, ele só
poderá voltar a trabalhar para o ex-patrão, por contrato de trabalho
intermitente, após 18 meses. Essa restrição vale até 2020.
Grávidas e lactantes – As gestantes serão afastadas de
atividade insalubre e exercerão o trabalho em local salubre. Neste caso,
deixarão de receber o adicional de insalubridade. Para as lactantes, o
afastamento terá de ser precedido de apresentação de atestado médico. O
trabalho em locais insalubres de grau médio ou mínimo somente será permitido
quando a grávida, voluntariamente, apresentar atestado médico autorizando a
atividade.
Jornada 12×36 – Acordo individual escrito para a jornada de
trabalho de 12 horas, seguidas de 36 horas de descanso, só poderá ser feito no
setor de saúde (como hospitais). Nos demais setores econômicos, essa jornada
deverá ser estabelecida por convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho.
Contribuição previdenciária – O trabalhador que em um mês
receber menos do que o salário mínimo poderá complementar a diferença para fins
de contribuição previdenciária. Se não fizer isso, o mês não será considerado
pelo INSS para manutenção de qualidade de segurado. A regra atinge todos os empregados,
independentemente do tipo de contrato de trabalho.
Negociação coletiva – Acordo ou convenção coletiva sobre
enquadramento de trabalho em grau de insalubridade e prorrogação de jornada em
locais insalubres poderão prevalecer sobre a legislação, desde que respeitadas
as normas de saúde, higiene e segurança do trabalho. Os sindicatos não serão
mais obrigados a participar de ação de anulação de cláusula de acordo ou
convenção impetrada por trabalhador (ação individual). A participação
obrigatória (o chamado “litisconsórcio necessário”) havia sido determinada pela
reforma trabalhista.
Trabalhador autônomo – A MP acaba com a possibilidade de o
trabalhador autônomo prestar serviço a um só tomador (fim da cláusula de
exclusividade). O autônomo poderá ter mais de um trabalho, no mesmo setor ou em
outro diferente. Tem o direito de recusar atividade exigida pelo tomador.
Representação em local de trabalho – A comissão de
representantes dos empregados, permitida em empresas com mais de 200
empregados, não substituirá a função do sindicato, devendo este ter
participação obrigatória nas negociações coletivas.
Prêmios – Aqueles concedidos ao trabalhador (ligados a
fatores como produtividade, assiduidade ou outro mérito) poderão ser pagos em
duas parcelas.
Gorjetas – Não constituem receita própria dos empregadores,
destinando-se aos trabalhadores. O rateio seguirá critérios estabelecidos em
normas coletivas de trabalho.
Fonte: Agência Brasil
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