REELEIÇÃO: Candidatura de Temer enfrenta resistência no próprio MDB
A possível candidatura do presidente Michel Temer a um
segundo mandato enfrenta resistências não apenas em partidos da base aliada do
governo, mas no próprio MDB. Defendida nos bastidores por ministros que ocupam
gabinetes no Palácio do Planalto, a estratégia para lançar Temer ganhou os
holofotes depois que o governo anunciou a intervenção na segurança pública do
Rio.
Em reunião da Executiva Nacional do MDB, nesta quarta-feira,
21, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, fez uma defesa enfática
da candidatura de Temer. A portas fechadas, Marun declarou que o presidente tem
"todas as chances" de ganhar. "Eu disse que precisamos nos
preparar para isso", afirmou o ministro ao Estado. Ele disse ter
conversado sobre o assunto com Temer, na segunda-feira, 19. "A posição
dele, hoje, é a de não disputar. Agora, quando os adversários se preocupam com
isso, significa que estamos no caminho certo."
Reconduzido à presidência do MDB por mais um ano, o líder do
governo no Senado, Romero Jucá (RR), ouviu a defesa feita por Marun, mas não
seguiu na mesma toada. Disse que o partido trabalha para ter candidato próprio
à Presidência, mas citou outros nomes além de Temer, incluindo o do ministro da
Fazenda, Henrique Meirelles. Sem espaço no PSD, Meirelles negocia filiação ao
MDB.
"Nós estamos discutindo qual é o nome mais viável, mais
factível, que possa ganhar as eleições", afirmou Jucá.
Em conversas reservadas, porém, dirigentes do MDB sustentam
que Temer somente será candidato se, em abril, chegar a dois dígitos de
aprovação. Dono de altos índices de impopularidade, o presidente aposta em uma
agenda mais social para melhorar sua imagem.
Porta-voz. Preocupado com interpretações dando conta de que a
decisão de pôr as Forças Armadas nas ruas do Rio foi "eleitoreira",
Temer escalou o porta-voz Alexandre Parola para rebater rumores sobre eventual
candidatura. Antes, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) havia dito
que Temer usou a intervenção para se cacifar na disputa. Na mensagem, Parola
afirmou que o governo não está atrás de "aplauso fácil".
Para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a
possível campanha de Temer é "problema" do MDB e do Planalto.
"Isso é problema de lá. Eu não reclamei que eles estão querendo cuidar dos
projetos de cá? Deixa eles cuidarem de lá e a gente cuida de cá", disse
Maia, que é pré-candidato à sucessão presidencial.
No diagnóstico do DEM, um cenário assim forçaria Maia e o
governador Geraldo Alckmin, postulante do PSDB, a se unir em torno de uma
candidatura única de centro, na tentativa de impedir um segundo turno entre o
deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e um nome da esquerda.
Integrante da ala oposicionista do PSDB, o senador Tasso
Jereissati (CE) disse que a entrada de Temer na disputa seria
"inconveniente" para o MDB. "Eu vejo o senador Renan Calheiros
com Lula. Vejo o presidente do Senado (Eunício Oliveira) com Lula e o (senador)
Jader Barbalho também. Como é que eles vão juntar esses cacos?",
questionou o tucano.
Vice-líder do governo na Câmara, o deputado Beto Mansur
(PRB-SP) avaliou que, se Temer concorrer, inviabilizará não só Meirelles - que
já perdeu a bandeira da reforma da Previdência -, mas também Maia. "Michel
é candidatíssimo", disse Mansur.
Para Meirelles, porém, é "prematuro" afirmar o que
a base aliada fará na corrida presidencial. "Vamos ver como tudo isso se
desenvolve", disse o ministro. "Peru não morre de véspera."
Fonte: Estadão
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