Agora é Temer contra Alckmin
A
desistência definitiva de Luciano Huck torna um pouco mais claro o cenário
eleitoral. A disputa pela candidatura que tentará angariar o voto insatisfeito
com as opções Lula e Bolsonaro – chamado genericamente voto de “centro” – está
agora entre o presidente Michel Temer e o governador Geraldo Alckmin.
O presidente
da Câmara, Rodrigo Maia, e o ministro Henrique Meirelles correm por fora, mas
sabem que têm chance ínfima pela irrelevância nas pesquisas eleitorais. Temer
também é desdenhado pela população. Que outro político inspirou uma alegoria de
vampiro no Carnaval? Sua rejeição praticamente garante que não seria eleito.
Mas Temer
tem a caneta da Presidência e a ilusão de que, com a recuperação econômica,
pode virar o jogo. Além disso, se mantiver o cargo, continuará a salvo das
denúncias contra ele na Operação Lava Jato – ambos congeladas pela Câmara – e
das futuras investigações sobre o “quadrilhão” do PMDB.
O contexto eleitoral
é essencial para entender a intervenção federal para deter a violência no Rio
de Janeiro e a recriação do ministério da Segurança Pública. Por mais que ambas
sejam medidas necessárias, Temer as toma também de olho na campanha, na
tentativa de dar uma guinada de imagem em seu governo, diante do fracasso
inexorável da reforma da Previdência (que também se encarregará de sepultar as
esperanças de Meirelles).
Segurança
será uma das bandeiras centrais na campanha do deputado Jair Bolsonaro, cuja
base eleitoral original está na Polícia Militar, no Exército e no grupo
parlamentar conhecido como “bancada da bala”. Bolsonaro defende medidas duras
para conter o crime, com acenos até à tortura e à violação de direitos humanos.
Tanto Temer
quanto Alckmin sabem que o tema e, em especial, a postura de Bolsonaro cativam
parcela significativa do eleitorado. O descalabro que toma conta do setor, que
nunca teve política nacional consistente, abre espaço para que o discurso
extremista prospere.
A violência
do narcotráfico, a facilidade do contrabando de armas, o controle dos presídios
por facções criminosas, a precariedade e o atraso tecnológico das forças da
lei, a corrupção policial, a leniência absurda da Justiça e da lei penal – tudo
isso faz do crime um negócio de sucesso no Brasil. Combater a complexa teia de
fatores que resulta na violência sem ação do governo federal é impossível
A
recuperação econômica gradual pôe a segurança no alto das preocupações do
brasileiro. Alckmin tem o que mostrar. Bem antes de Temer, já falava em criar
um ministério para cuidar do assunto. Também apresenta São Paulo como exemplo
de sucesso no combate ao crime.
Com alta
taxa de encarceramento, uma devassa na polícia ainda nos anos 1990, a
perseguição a matadores de aluguel na mesma época e um controle mais eficaz das
armas, São Paulo é o estado brasileiro que teve mais sucesso no combate ao
crime. Exibe números que contrastam com o resto do país. Mas a situação
paulista é instável. Vários índices têm dado sinais de degradação, em especial
furtos e latrocínios.
Apesar
disso, ela não se compara à do Rio, onde o fracasso do programa das Unidades de
Polícia Pacificadora (UPPs) devolveu ao tráfico o controle sobre àreas críticas
que haviam sido reocupadas. Os homicídios voltaram a subir de modo vertiginoso,
e a sensação de insegurança aterroriza a população. Sem recursos para tomar
qualquer atitude, o governador Luiz Fernando Pezão não viu outra saída a não
ser pedir ajuda a Temer.
Temer
aproveitou a oportunidade para mudar a agenda e fincar uma estaca no terreno
disputado por Bolsonaro e Alckmin. Politicamente, mesmo que a situação não
melhore, ele não tem nada a perder. Sua popularidade chegou aos níveis mais
baixos na história das pesquisas. De lá, só poderá subir.
Quem
enfrenta um dilema agora é Alckmin. Não é um dilema novo. Tanto ele quanto
Temer defendem quase o mesmo programa econômico. A implementação está em pleno
andamento e, mesmo com o fracasso na reforma da Previdência, o resultado é
positivo: juro baixo, inflação baixa, desemprego em queda.
Seria
natural uma aliança entre PSDB e MDB. Para Alckmin, contudo, defender Temer
significaria abraçar um presidente que o brasileiro preferiria esconjurar,
parecido com aquele vampiro de Carnaval de quem, a qualquer momento, poderia
levar uma dentada no pescoço.
Fonte: G1
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