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Abaixo a "música safadona"


Desde 2010 procuro alertar para as consequências da decadência das músicas que mais fazem sucesso. Infelizmente, a situação só piorou. Tanto as músicas passaram a fazer mais apologia ao álcool, ao adultério, ao sexo sem compromisso e a um estilo de vida desregrado, como também os artistas que seguem essa “cartilha” fazem ainda mais sucesso.

Recentemente li uma matéria sobre um dos maiores artistas dessa linha, a revista mostrou sua história, sua rotina, seu “império” e sua vida privada, porém a matéria não comentou as “mensagens” que ele passa nas suas músicas. Já tinha infelizmente ouvido uma ou outra música dele, aí resolvi ouvir um CD por inteiro, de 20 músicas, 17 traziam letras com condutas que eu creio que ninguém deveria seguir. 

É triste constatar que essas condutas são pregadas pela maioria dos artistas de maior sucesso, seja no forró “estilizado”, no sertanejo “universitário”, no arrocha, na “sofrência”, no funk, etc. Em uma pesquisa, de 48 atrações do novo sertanejo, apenas sete não falavam de bebida alcoólica em suas músicas. Muitos artistas são patrocinados por marcas de bebidas. No exterior, empresas de bebidas compraram gravadoras. Nota-se que é um movimento articulado para levar a juventude ao consumo exagerado de bebida e a ser “desmantelada”.

Para a maioria deles o jovem nunca deve assumir compromisso; namoro e casamento, nem pensar; devem ser cachaceiros; qualquer decepção é motivo para bebedeira, qualquer alegria também; trair e ser traído é normal; tem que se exibir, ou “ostentar”, com roupas e acessórios de marcas caras; o homem deve “pegar as novinhas”, que muitas vezes fica subentendido serem menores; a mulher deve se entregar ao máximo de homens; ela deve aceitar o homem “cachaceiro” e “raparigueiro”; são comuns palavrões e insultos serem aplaudidos. O mais novo alvo são as mulheres, principalmente as “novinhas”, que também devem “encher a cara” e serem “safadas”, por isso vemos sucesso de cantoras com músicas nessa linha. A que ponto chegamos.

Para piorar, além dos adolescentes, vemos universitários, professores, autoridades e até os próprios pais, curtindo as piores músicas e dando um péssimo exemplo, inclusive para as crianças. Lamentavelmente muitos gestores, pensando nos votos desses jovens, usam o dinheiro público para contratar artistas que só contribuirão para desencaminhá-los. 

Pesquisas mostram que muitos dos jovens que curtem essas músicas e admiram esses artistas são influenciados pelo que eles dizem. O jovem é exposto a mais de três mil menções a bebidas alcoólicas por ano. Quanto mais cedo se começa a consumir álcool, maior a chance de se viciar. Como o jovem quer se destacar no seu grupo, vai cada vez mais longe nesses comportamentos, se tornando alcoólatra e até viciado em drogas, outros vão aderindo para não serem excluídos da “Geração Copo na Mão”. Estão sendo destruídos sonhos e vidas já que acidentes automobilísticos e a violência, ambos na maioria das vezes associados ao álcool, são as principais causas de mortes de jovens. 

Peço ao jovem para que diga “não” a essas músicas, esqueça a mídia, o “sucesso”, o espetáculo, ouça as letras e diferencie o que é bom do que não é, não seja “Maria-vai-com-as-outras”; peço às autoridades que não contratem artistas que só vão trazer más influências e tirar o brilho de suas festas, transformando-as em “bagaceira”; peço aos radialistas, pessoal do meio cultural, professores, políticos, formadores de opinião e a todos que possam levar esse alerta adiante, que façam sua parte, já que gestores dizem que contratam por que a “maioria” quer, embora ache que não deveria ser assim, vamos procurar mudar essa “maioria”; por fim, peço às escolas que promovam um mínimo de “educação musical”, mostrando a diversidade e a qualidade da nossa música. Isso não é uma questão de gosto, é um problema social e de saúde pública que devemos enfrentar.


Por Jocelino Tomaz (professor, natural de Caiçara-PB)

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